Cidades fantasmas

Nosso mundo está em constante evolução. O que era realidade há 100, 50 e até 20 anos atrás, hoje já se tornou obsoleto. Isso se dá pela constante transformação do homem e da natureza no nosso planeta. Algumas vezes, porém, essas transformações acabam não tendo o sucesso esperado, mas deixam marcas incríveis que podem ser observadas nas cidades abandonas. Nesse post, vamos conhecer algumas delas.

1) Oradour-sur-Glane, França


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Carros abandonados em uma antiga garagem em Oradour-sur-Glane, França

Oradour-sur-Glane é uma pequena vila francesa que foi completamente destruída durante o massacres de civis na Segunda Guerra Mundial. O que resta hoje são apenas as ruínas do ataque nazista em 10 de junho de 1944.
É possível ver em meio ao que restou da cidade objetos pessoais, máquinas, panelas e carros da época destruídos. Em cada prédio, é possível ver placas que informam o que funcionava em cada local. O presidente Charles de Gaulle decidiu deixar a cidade assim como memorial do massacre ocorrido nos anos 40. 

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Ruínas de uma antiga escola infantil destruída. (à direita)

No dia 10 de junho de 1944, as tropas alemãs se juntavam aos combatentes na Normandia para tentar barrar o avanço dos Aliados, que quatro dias antes chegaram na região, o que ficou conhecido como O Dia D.  Neste dia, um comandante das tropas que estava a caminho recebeu a notícia de que um de seus soldados foi feito prisioneiro de guerra por um grupo na pequena vila. 

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A igreja de Oradour-sur-Glane  onde 450 mulheres e crianças foram mortas.

À tarde do mesmo dia, as tropas alemãs cercaram a cidade de 1000 habitantes. 190 homens foram fuzilados em um celeiro pelos alemães e 450 mulheres e crianças foram incendiadas. Marguerite Rouffanche conseguiu fugir, pulando uma das janelas da igreja, e foi a única sobrevivente. Os soldados atearam fogo no resto da cidade e fugiram.

A história de sobrevivente Madame Marguerite Rouffanche
Marguerite Rouffanche, a única sobrevivente do massacre.

2) Pompeia, Itália 

A cidade situada na região de Napóles, na Itália, foi completamente destruída pelas erupção do vulcão Vesúvio, no ano de 79 d.C., soterrando quase toda população da época. Pelo menos 2000 pessoas ficaram presas e não tiveram como escapar da destruição causada pelo vulcão. 

Pompeia: a cidade que foi petrificada por um vulcão na Itália ...
Pompeia, Itália. A cidade foi encontrada preservada, inclusive os corpos de pessoas na mesma posição.

No final do século XVIII, um agricultor descobriu a cidade e arqueólogos escavaram, descobrindo casas, cidades, teatros, objetos e outras construções. Porém, o que mais chamou a atenção, foi a descoberta de corpos petrificados pelas cinzas, na mesma posição que estavam antes da cinza os atingirem. 

Em 1860, o escavador Giuseppe Fiorelli, encontrou em espaços vazios, restos de corpos humanos. Ele percebeu que as cinzas do vulcão revestiu os corpos e quando a roupa ou o corpo se deteriorava, um espaço vazio era deixado, mostrando os a forma do cadáver na hora da morte.  Fiorelli, então, resolveu injetar gesso para remontar as formas das vítimas no momento do desastre. Mais de 1000 moldes foram feitos, incluindo casais, famílias e amigos se abraçando e tentando escapar com vida.

Gestos
Corpos recuperados através da técnica de Fiorelli.

A erupção durou dois dias. Um jovem chamado Plínio foi a única testemunha. Ele estava em Nápoles, do lado oposto de Pompeia e testemunhou a erupção de longe no primeiro dia. No segundo dia, uma coluna de magma e cinza atingiu 27km de altura e causou uma chuva de pedras superaquecidas sobre a cidade.

Pompeia
Imagem da destruição causada pelo vulcão Vesúvio.

Com uma área de 67 hectares, Pompeia é o maior sítio arqueológico aberto para visitações, recebendo cerca de 2,5 milhões de pessoas por ano.


3) Pripryat, Ucrânia

Vista da cidade abandonada de Pripyat perto do central elétrica de
Pripryat, Ucrânia
No dia 26 de abril de 1986, um reator da Usina Nuclear de Chernobyl, na cidade de Pripryat, Ucrânia sofreu uma falha que resultou no maior desastre nuclear da história. O acidente nuclear espalhou radiação pelo ar que chegou à diversos países vizinhos. Mais de 50 mil pessoas foram retiradas da cidade no dia seguinte ao desastre e cerca de 300 mil nos 14 dias seguintes.
Cerca de 30 pessoas morreram no combate direto ao fogo e a explosão, como cientistas, técnicos e bombeiros. Estima-se que até 200 mil pessoas foram ou serão afetados por causa da radiação ainda hoje, devido a contaminação por césio-137 e iodo-131. A radiação contaminou a vegetação, a água, o solo e causou diversos tipos de câncer nas pessoas afetadas.
É difícil estimar o número de vítimas do desastre, porém, é possível ver o impacto na área de 2.600 km² . A cidade se tornou uma zona de exclusão. Parques de diversão, prédios que remetem a era soviética, escolas, hospitais. Todos com marcas da destruição pela radiação e do abandono.


Bonecas colocadas por visitantes no jardim de infância na cidade abandonada de Pripyat, perto da...
Imagem que retrata uma escola infantil abandonada. As bonecas foram deixadas por visitantes do local.


 Em 2016, após 30 anos do desastre de Chernobyl, o fotógrafo Gleb Garanich fez uma série de imagens da cidade que chegam ser assustadoras.

Uma casa na aldeia abandonada de Zalesye, perto da usina de
Casa abandonada em Zalesye, próximo a usina de Chernobyl


Vista de um parque de diversões no centro da cidade abandonada de
Foto de um parque de diversões abandonado em Pripryat.




Atualmente, é possível visitar a cidade com uma empresa contratada. É obrigatório estar com um monitor de nível de radiação e estar ciente dos riscos. Os tours de um dia variam de € 80 a € 140 (R$ 372 a R$ 650), se comprados com antecedência. 
Em 2019, a HBO lançou uma série de 5 episódios retratando como ocorreu o acidente nuclear de Chernobyl.


4) Humberstone, Chile

Foto: Gideon Long
Cidade abandonada de Humberstone


O vilarejo de Humberstone está localizado no norte do Chile, na região do Atacama e fica próximo da fronteira com Bolívia e Peru. Possui esse nome por causa do engenheiro químico britânico James Humberstone, que chegou a América do Sul em 1875 e fez sua fortuna com a extração de salitre a partir do caliche encontrado no deserto. Até o começo do Sec. XX, quse todo o salitre do mundo era originado do Chile.

James Thomas Humberstone - Wikipedia
Retrato de James Humberstone



Humberstone foi uma das diversas cidades construídas para extração e comércio de salitre do Deserto do Atacama. A extração não era simples, proporcionando péssimas condições para os trabalhadores, como falta de água e calor intenso no deserto. 

Foto: Gideon Long
Foto do armazém da época em que a extração de salitre estava ativa

Com a Primeira Guerra Mundial, os britânicos resolveram bloquear as exportações de salitre para a Alemanha. Isso fez com que os alemães desenvolvessem substitutos artificiais, acabando então com a indústria do salitre. Humberstone se tornou um cidade fantasma, sem ninguém trabalhando ou morando há 50 anos. 
O ar seco do deserto ajudou na conservação da cidade. É possível um armazém onde se comprava suprimentos, uma praça central, o coreto e até um hotel e uma piscina abandonada. Por toda cidade, é possível maquinários e ferramentas envelhecidos pela ferrugem. 

Foto: Gideon Long
É possível ver o maquinário abandonado pela cidade.

Humberstone foi tombada como Patrimônio da Humanidade e está foi restaurada pela Unesco, se tornando um Museu à céu aberto.

5) Centralia, Pensilvânia, EUA


Imagem da rodovia em Centralia registrada em 1966
Imagem da rodovia em Centralia registrada em 1966


Em 1962, a prefeitura de Centralia inaugurou um novo aterro na cidade, localizado em cima de uma mina de carvão desativada. Era uma prática comum dos moradores atearem fogo no lixo acumulado nos aterros. A população começou a reclamar do mal cheiro e então a administração da cidade convocou alguns bombeiros para atear fogo nos dejetos e em seguida, apagá-lo. 
Os bombeiros conseguiram apagar o fogo no primeiro momento, porém este voltou a acender nos dias seguintes. Não sabia-se que o fogo ardia no subsolo, nas minas de carvão abandonadas.

Imagem do aterro de Centralia incendiado.
Imagem do aterro de Centralia incendiado.

Durante o incêndio, especialistas descobriram que algumas fendas ao redor do aterro exalavam monóxido de carbono em quantidades que representavam incêndios em minas de carvão. 
O incêndio ocorreu há mais de 60 anos e continua ardendo. Acredita-se que ainda dure mais de 200 anos, devido a quantidade de material em combustão no subsolo. Os moradores ainda ficaram duas décadas na cidade, convivendo com um perigo eminente.

Rodovia de Centrália com uma fenda em chamas
Rodovia de Centralia com uma fenda em chamas

Na década de 80, um menino de 12 anos quase morreu ao cair em um buraco de 1,2m de largura que se abriu de repente em sua casa. Com o risco de morte preocupante, o Congresso dos EUA aprovou a verba de 42 milhões de dólares para tentar apagar o incêndio e retirar a população da cidade. Porém, nem todos os cidadãos de Centralia aceitaram sair da cidade. Menos de dez pessoas ainda vivem na cidade. O governo tentou retirá-las, porém sem sucesso. Então, chegaram num acordo: esses moradores podem viver até o fim de suas vidas e após isso, suas propriedades pertencerão ao Estado. 

Casas em meio ao incêndio de Centralia.
Casas em meio ao incêndio de Centralia.

Uma igreja da cidade ainda resiste ao incêndio e continua recebendo visitas de ex-moradores de Centralia. A construção religiosa destaca-se com sua cúpula azul no horizonte abandonado. Seus membros deixaram o local, mas continuam congregando na igreja católica ucraniana. O templo católico foi erguido sobre uma pedra, o que faz com que os moradores citem um versículo bíblico que explicaria a resistência da igreja à destruição. 

Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; - Mateus 16:18

 
A igreja de cúpula azul
A igreja de cúpula azul, sobrevivente do incêndio.

Centralia se tornou uma cidade turística. Muitos dizem que foi inspiração para o jogo de terror Silent Hill, devido ao clima nebuloso do jogo, semelhante a fumaça do incêndio. Também ficou conhecida como Graffite Highway, pois, a partir dos anos 2000, os turistas aproveitaram os espaços vazios para desenhar, pintar, grafitar e deixar mensagens de reflexão.

Grafites feitos por turistas em uma rua abandonada.

 

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